segunda-feira, 30 de julho de 2012


'Não consigo ver ninguém batendo Cesar em Londres', diz ex-treinador

Técnico que ajudou Cielo a ganhar o ouro e o bronze em Pequim, Brett Hawke diz que ele vencerá de novo os 50m; nesta terça, faz estreia nos 100m livre


Naquela manhã de agosto, em Pequim, há quatro anos, Cesar Cielo acordou  descrente. Faltavam poucas horas para a final dos 100m livre, mas aquela raia 8 incomodava. Nadar no canto da piscina, com sete adversários nadando mais rápido do que ele, foi demais para a cabeça do jovem calouro. Foi preciso ouvir palavras duras de Brett Hawke, seu treinador na ocasião, para entender que estava tão ou mais veloz do que os outros, que estava tão ou mais bem preparado do que eles para ganhar um medalha. Foi a primeira de duas. O bronze nos 100m livre marcou o despertar do campeão. Foi o primeiro passo para o ouro nos 50m livre e um ciclo vitorioso, com direito a títulos e recordes mundiais nas duas provas e o status de homem mais rápido do mundo. Nesta terça-feira, a partir das 6h (de Brasília), Cielo dará início a sua participação nos Jogos de Londres. E outra vez com os 100m livre.
cesar cielo medalha de ouro PEquim 2008 (Foto: Agência Reuters)

Daquele menino que ainda se mostrava frágil mentalmente, não restou nada. Essa força, aliada à qualidade técnica, ao perfeccionismo e ao apetite de se manter no topo, é o que leva Brett a pensar que seu ex-pupilo não perderá o trono nos 50m livre. Não descarta também vê-lo no pódio nos 100m, mesmo que James Magnussen, australiano como o técnico, tenha mandado um recado de que não tem medo de Cielo. Atual campeão mundial da distância, que chegou botando banca, mostrou abatimento após a disputa do 4x100m livre. Abriu o revezamento e foi superado pelo americano Nathan Adrian.  
- Eu ainda acredito que Cesar é o nadador mais rápido do mundo. Eu não consigo ver ninguém o batendo nas Olimpíadas - disse Brett.  
Mesmo que a parceria tenha sido rompida no fim de 2010, após os resultados do Pan-Pacífico Irvine que não deixaram Cielo satisfeito, o ex-treinador sente falta dos dias ao lado dele. O filho também. Dia desses, perguntou por onde Cesar andava. Estava com saudade dele. O pai também. O reencontro foi na beira da piscina do Centro Aquático, às vésperas do início dos Jogos. Brett, que em 2008 vestiu o uniforme do Brasil, hoje usa o das Bahamas, juntamente com a velocista Arianna Vanderpol-Wallace.
Entre as boas lembranças de Pequim, Cielo também guarda uma de quando passaram juntos um dia depois da conquista do ouro. Após um passeio para lá de agitado pelo Templo do Céu, deixaram o local num requixá em direção à Cidade Proibida, mas acabaram sendo levados pelo condutor a um lugar errado.
-  Tive que sair correndo depois de fazer fotos lá com as medalhas. Foi um assédio louco. Entramos no requixá, e o cara que estava dirigindo foi entrando nuns becos. Perguntei para o Brett: "Ele está nos levando para onde?" E nada de parar para falar. Até que parou e cobrou 400 yuans. A gente não sabia se aquele era o valor certo. Ficamos sem dinheiro no meio do nada. Fomos andando e paramos numa praça. Nós estávamos de uniforme, e eu com medo de pegarem minhas medalhas. Lembrei que tinha um celular no bolso, só que ali não estava funcionando. Passaram três meninas e pedi o celular emprestado. Elas não entenderam nada e me deram o número do telefone delas. Brett riu e eu só queria ir embora. Até que conseguimos fazer contato e nos acharam - diverte-se Cielo.
GLOBOESPORTE.COM: Você disse uma vez que teria medo de enfrentar Cielo nos tempos em que você era nadador. Que ele seria o rei das provas de velocidade até 2012 e que se estivesse numa mesma série com o russo Alexander Popov, o americano Gary Hall Jr., o holandês Pieter van den Hoogenband, ganhariaPor quanto tempo acredita que ele conseguirá se manter nessa condição?
Brett Hawke:
 Eu ainda acredito que Cesar é o nadador mais rápido do mundo. Não consigo ver ninguém o batendo em Londres. Eu ainda não gostaria de encarar Cesar nas Olimpíadas porque acho que é quando está no seu melhor e é mais poderoso. Ele vai ganhar os 50m livre de novo em Londres.
James Magnussen já mandou recado e está muito veloz. Ele é a maior ameaça de Cesar nos Jogos?
Magnussen tem sua própria força, mas as Olimpíadas são diferentes. Se ele provar a si mesmo ser tão bom quanto Cesar, então eu serei o primeiro a parabenizá-lo.
Acha que ele poderá ser o nome que vai alavancar novamente a natação da Austrália?
Não, os EUA sempre vão estar no topo, mas a Austrália poderia ganhar um revezamento.
Você orientou Bruno Fratus em 2011, quando ele foi a Auburn. Pelo que viu, esperava que ele pudesse ser tão rápido como agora? Acredita na possibilidade de uma dobradinha dele com Cesar nos 50m livre?
Eu apenas o ajudei um pouco com sua saída. Ele é um ótimo nadador e tem no Ari (Arilson Soares) um grande técnico. Tudo o que nós fizemos foi dar uma nova perspectiva, e ele pegou muito rapidamente, porque é um aprendiz rápido. Acho que Bruno tem uma grande chance de pódio em Londres
Como foi ver Fred Bousquet sem um lugar nos Jogos?
Foi muito duro não vê-lo se classificar. No início, nós ficamos todos em choque porque ele estava nadando muito bem antes das seletivas. Então, depois ele foi para o Brasil e nadou rápido, foi para o Campeonato Europeu e ganhou o ouro. E aí vimos que isso ainda estava nele. É uma pena ele não competir contra Cesar em Londres, porque eu acho que eles ainda são os dois nadadores mais rápidos do mundo. Tudo acontece por uma razão.
Quais lembranças tem daqueles dias com ele em Pequim? Que situações você não esquece e marcaram aquelas duas medalhas?A minha lembrança mais viva é a de Cesar depois da cerimônia de premiação, envolvendo-o na bandeira brasileira ainda na piscina, com todos os integrantes da seleção brasileira. E todos nós estávamos pulando, gritando e chorando. Foi um momento muito forte que nunca mais da minha cabeça.
O Cesar de 2012 tem algo do Cesar de 2008?
Ele é mais forte, mais rápido e mais maduro agora. Se fosse um produto tecnológico, seria chamado Cesar 2.1.
cesar cielo brett hawke parque aquático treinos londres 2012 (Foto: Danielle Rocha / Globoesporte.com)

Ele disse que no Mundial de Xangai, pouco depois do julgamento do TAS (pelo caso de doping), você mandou um e-mail não acreditando como desafiou todos daquele jeito. E ele respondeu dizendo que não sabia. Foi difícil vê-lo envolvido naquela situação do doping? Você acha que psicologicamente ele já está forte o suficiente para aguentar a pressão que terá em Londres?
Foi uma situação terrível de encontrá-lo envolvido. Nada disso foi planejado, procurado ou desejado. Ele é agora um atleta muito mais cauteloso, mas também mais forte para enfrentar um mundo como esse.  
Como foi a etapa após o fim da parceria com Cielo e que relação mantém com ele? Que lições tirou da experiência de ter treinado um campeão olímpico? Faria algo diferente?A vida depois de Cesar é boa. Eu tenho atletas como Marcelo Chierighini, que são jovens e famintos por sucessos exatamente como Cesar era. Um arrependimento que tenho é que eu queria ser o técnico dele por toda a vida, como Popov e seu treinador ou Van den Hoogenband e o seu. Eu aprendi muitas coisa treinando Cesar, mas a coisa mais importante é apreciar o sucesso quando ele acontece e parar e aproveitar os momentos na vida, porque eles podem não acontecer novamente. Felizmente, nós ainda temos uma relação muito próxima agora. Ele sempre fará parte da minha vida, pelo menos como amigo.
Seus filhos nadam ou você acha que eles vão se interessar por outros esportes?
Meu filho nada e ele me perguntou recentemente onde Cesar estava porque disse que sente saudade dele. Espero que eles se encontrem de novo em breve!
O que você espera de Arianna em Londres?
Ela treina comigo há quatro anos em Auburn e, nesse tempo, se tornou a nadadora mais rápida na história do NCAA, assim como Cesar. E agora está nas Olimpíadas, correndo por fora, assim como o Cesar em 2008.


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