Ele não quer ficar conhecido como "homem de uma prova só". Por isso, o treinamento de Cielo, desde o início do ano, visa também a disputa dos 100 m livre, na qual já foi bronze em Pequim. O objetivo é voltar para casa com pelo menos os dois ouros nas provas mais curtas da natação. Além das suas duas principais provas, ele ainda nadará os 50 m borboleta e os revezamentos 4x100 m livre e medley.
Nesta entrevista ao Terra, Cielo fala das chances do Brasil no Mundial, dispara contra a polêmica dos maiôs e analisa a atual geração da natação brasileira.
Terra - Como é conquistar um ouro olímpico e ainda assim precisar sempre melhorar?
César Cielo - No momento o ouro olímpico já passou. Foi um sonho que eu conquistei e sei que o passado não vai ajudar em nada no futuro, em relação a estar na final do Mundial, por exemplo. Sei que a experiência pode me ajudar muito, mas conquistas passadas não ajudam em nada. É começar do zero de novo, agora com mais experiência.
Terra - Como você lida com essa cobrança diária?
César Cielo - Por enquanto estou levando bem essa temporada, bem mais na boa. Na temporada passada eu sofri muito mais, parecia que estava tudo errado. Chegou a um ponto em que eu achava tudo chato. O treino estava muito pesado, ou a água estava muito gelada, tudo era motivo. Nessa temporada estou me controlando mais, até porque tenho um adversário treinando comigo todo dia (Jason Lezak). ( Ahnn???? Não seria Fred Bousquet? O Jason Lezak treina na California e não vai participar do Mundial de Roma pois optou participar das Macabíades, as Olimpíadas Judaicas em Israel)
Terra - Em quais provas você sente que tem mais chance de medalha no Mundial? Segue sendo 50 m e depois os 100?
César Cielo - Pelo resultado do Troféu Maria Lenk (ouro nos 50 e nos 100), acho que posso brigar pelo ouro nos 100 m sim. Não sei se estou pensando um pouco longe, mas pelo menos no pensamento me sinto mais confiante. Na Olimpíada de Pequim, fui focado nos 50 m e agora estou dando igual atenção às duas provas. Como melhorei meus tempos no Maria Lenk, quero baixar mais ainda. Esse torneio foi bem motivador em relação aos tempos que eu fiz.
Terra - Seu treinamento mudou para focar o ouro nos 100 m?
César Cielo - De janeiro ao Maria Lenk (em maio) treinei bem pesado, inclusive musculação, para ganhar força. Depois do polimento, fiquei com um certo receio de ficar muito pesado e isso interferir no desempenho na água. Então "tirei o pé" na musculação e fiquei mais na água. Treinei muita saída, pois você tem que ter mais constância nos 100 do que nos 50, que é um tiro só. Estou sabendo dosar melhor as duas partes da prova.
Terra - Sobre o Phelps investir nessas provas: que expectativa isso causa em você?
César Cielo - Tenho mais expectativa em relação à midia que vai atrair, não o vejo como adversario. Ele vai ter bastante dificuldade nos 50 m, porque é uma prova que você já tem de estar nadando antes da competição. As provas dele começam na segunda parte, e como os 50 m não tem segunda parte, são pura explosão, acho que não será adversário. Nos 100 m ele pode causar alguma coisa, mas nos 50 traz um pouco mais de atenção só em relação à mídia.
Terra - O que você poderia nos dizer a respeito do Felipe França, recordista mundial nos 50 m peito? Ele tem potencial para mais conquistas?
César Cielo - Pelo fato de sermos novos (delegação brasileira da natação), esse grupo tem uma energia boa para seguir forte por um bom tempo, principalmente para os ciclos olímpicos de 2012 e 2016. Acredito que o França vá chegar no Mundial pronto pra fazer o que fez no Maria Lenk. Mais importante: vai para baixar o tempo dele e ser ouro. Como ele vai só nos 50 m, acho que briga sim pelo ouro, pois o treinamento está voltado somente para essa prova, algo que favorece no rendimento final.
Terra - Além do França, que outros nadadores menos conhecidos você destacaria?
César Cielo - O Henrique Barbosa (100 m borboleta, 100 m costas e 4x100 m medley) não seria surpresa para nós, seria mais para o pessoal que não acompanha muito. O Guilherme Guido (50 m e 100 m costas, 4x100m medley) e o Gabriel Mangabeira nos 100 m borboleta. Esses três não são muito assediados, mas terão ótimas marcas em Roma.
Terra - E no feminino?
César Cielo - Acho que a Gabriela Silva, que foi finalista olimpica no ano passado e vai disputar os 50 e 100 borboleta (além dos 4x100 m medley). A Fabíola Molina, pela sua experiência, também pode ir bem. Os 50 m costas dela são muito bons.
Terra - Você acha que a natação brasileira vive o melhor momento da história? Já tivemos grandes ídolos, mas agora há um grupo, e não só um ídolo solitário?
César Cielo - Sem dúvida, é a melhor fase da natação brasileira. Essa geração já se firmou na natação desde o Pan-Americano de 2007. Acredito que precisamos de maior constância. O Gustavo Borges e o Xuxa mantiveram essa constância, todo ano um dos dois mantinha os bons resultados. Desde 2007 estamos em alta, o esporte evoluiu demais no Brasil, e não só por causa dos supermaiôs.
Terra - Falando nisso, qual é a tua opinião a respeito dessa polêmica toda em torno dos maiôs? (Alguns modelos foram vetados pela Fina, mas depois quase todos foram liberados para o Mundial, inclusive os dos brasileiros)
César Cielo - Tem que se seguir as regras, se não for aprovado, não foi. Mas não pode se apagar um tempo que já foi feito, não dá pra não homologar como recorde mundial, como foi o caso do Alain Bernard (o francês teve vetado o recorde nos 100 m livre). O lado bom é que trouxe muita atenção para a natação, mas está um pouquinho desigual. A Fina tem que acertar logo as coisas. Não sou a favor nem contra os maiôs. Se for preciso voltar para a época da sunga, que volte, mas com igualdade. Ninguém treina para ganhar com o melhor maiô, o treino é pra mostrar quem é o melhor na piscina.
Terra - Como você avalia a tecnologia influindo diretamente em desempenhos de atletas?
César Cielo - O maior problema não é nem interferir no desempenho, mas sim o futuro do esporte. Para a nova geração, por exemplo. Não é toda criança, adolescente, que tem condições de comprar um maiô tão caro para nadar em alto nível. Nos Estados Unidos, essa coisa do maiô é tão forte que agora, nas classificações, os nomes dos nadadores vêm com os modelos ao lado. Como se fosse na Fórmula 1: os nadadores são os pilotos, e os maiôs, os carros.
Terra - Se você fosse um nadador mais antigo, reclamaria dos maiôs?
César Cielo - Não ficaria muito feliz se batessem um recorde meu, não é? (risos). É algo difícil de se avaliar, porque todo esporte evolui, querendo ou não. Mas, não mexendo comigo, eu não reclamaria.
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