sábado, 28 de junho de 2008

4ª parte da reportagem... =)

[...]Cielo procura driblar as idiossincrasias locais, que não são poucas. A cidadezinha de Auburn vive em função de uma universidade com 22 mil alunos, mas tem apenas dois barzinhos próximos. Em ambos, só toca música country e as mesmas garotas que no campus circulam de shortinho ou pijama se materializam à noite em vestidos de florzinhas de desanimar qualquer um, ainda mais brasileiro.
Outra bizarrice é ter de guardar a bicicleta a sete chaves para não ser roubada, mas poder deixar a porta da casa aberta ou a chave no carro destrancado, sem o mais remoto perigo de furto. Cesão mora numa típica casa americana de dois andares, sem qualquer cerca, muro ou grade, que divide com um nerd canadense, também nadador por Auburn. O brasileiro observa com interesse quase arqueológico as montanhas de lixo, bagunça, sujeira, restos de comida e pilhas de roupas espalhadas pelo quarto do colega, mas atribui o caos ao excesso de estudos. Ademais, o canadense é inofensivo.
O perigo vem da casa vizinha, também alugada para estudantes-atletas. Um dos inquilinos é o paulista Roberto Mendes Martinez, antigo companheiro de treino de Cesão, que lhe conseguiu um estágio de três meses junto ao Departamento de Natação para robustecer o seu currículo de educação física nas Faculdades Metropolitanas Unidas, a brasileira FMU. A presença de Roberto Martinez tem sido um bálsamo para o campeão brasileiro. Eles se entendem sem precisar falar. É o segundo morador da casa vizinha que dá calafrios em Cielo. “Ele tem problemas, acho que é maluco”, resume, educada e diplomaticamente, Cesão, sem entrar em detalhes.
A figura é o velocista americano Steve Scheren, que gosta de assistir televisão com uma espingarda no colo e brinca de apontá-la para eventuais visitantes. Graças à liberalidade da legislação vigente no estado do Alabama, há pouco tempo Scheren ainda adquiriu uma pistola automática. Para quem é bolsista estrangeiro na terra de Mark Spitz, e, sobretudo, se começar a derrotar os nativos, convém estar preparado para alfinetadas e cotoveladas. Algumas são leves, mal fazem cócegas. Já outras apontam para algo menos inofensivo. Antes de subir no bloco de largada, Cesão tem o hábito de se estapear todo – pernas, braços, tórax. Às vezes com tamanha força que as marcas lhe ficam no corpo por vários dias. “A bateção serve para me deixar mais alerta, acho que vou nadar mais rápido, só isso. Não é um ritual nem segue qualquer seqüência”, explica.
Não tardou para que aparecessem blogs de nadadores americanos qualificando o brasileiro de “bárbaro”, “sem classe”, “primitivo”. Ele registra e releva. “Até entendo que os americanos, que são todos certinhos, me achem meio bárbaro porque choro, jogo o sagrado troféu universitário para a minha mãe na arquibancada, sou emotivo mesmo. Sou brasileiro. Mas não grito nunca. Tenho horror a barraco.” Neste sentido, o fato de estar sendo treinado por Brett Hawke, que é australiano e não americano, ajuda. “Minha relação com os nadadores estrangeiros daqui acaba sendo mais suave”, acredita o jovem técnico de 32 anos. “Com Cesar, estabelecemos uma afinidade imediata, fizemos opções semelhantes na mesma época de nossas vidas [ele também foi bolsista de Auburn] e suas barreiras me são familiares.”
Dois meses atrás, ainda com seus feitos na NCAA ecoando pelas piscinas americanas, Cielo anunciou que deixaria de competir no circuito universitário para se tornar profissional, isto é, poder fechar contratos publicitários e começar a ganhar dinheiro, dinheiro a sério, com a venda de sua imagem. O barulho na blogosfera subiu de tom, beirando o estapafúrdio. “Ele nunca foi amador”, acusava um blogueiro. “O brasileiro recebe uma grana por baixo do pano de Charles Barkley”, dizia outro, referindo-se ao astro da NBA dos anos 80 que se notabilizou pelo estilo prendo-e-arrebento, dentro e fora das quadras de basquete, e possivelmente o ex-bolsista mais famoso de Auburn. Por temperamento, formação e estilo, Cesão se situa a meio caminho entre o duo de ouro da geração anterior à sua.
Enquanto o dedicado Gustavo Borges sempre foi o genro dos sonhos de toda mãe casamenteira, Fernando Scherer era o irresistível predador que treinava um semestre ao ano e surfava nas pistas de dança nos outros seis meses. “Acho que conheci pelo menos cinco noivas oficiais do Xuxa em um só ano”, relembrava Gustavo no mês passado. É claro que há mais estofo por trás desses clichês, pois ninguém consegue uma medalha olímpica sendo apenas metódico ou baladeiro. Mas tanto a dupla Gustavo–Xuxa como Cesar Cielo Filho têm uma característica em comum: os três nasceram em ambientes familiares estruturados, funcionais e sem carências materiais ou emocionais.
No caso de Cesão, o DNA familiar tem um ingrediente extra: todos são tarados por água. “Ele nasceu prematuro, narigudo e feinho que só Nossa Senhora”, conta o pai pediatra, enquanto atende a um casal com criança no colo que veio bater no portão de sua casa. Coisas de cidade do interior. Também não é raro ver Cesar Cielo pai dar uma consulta na rua, a caminho de sua clínica ou de algum hospital público. Além de ser secretário de Saúde de Santa Barbara d‘Oeste, ele também chefia o Departamento de Natação do clube esportivo da cidade.
A mãe, Flávia Lira, filha de nordestino e formada em educação física, nadava costas e faz doutorado visando provar laboratorialmente que a natação diminui as células inflamatórias na asma. Fernanda, a irmã de 17 anos, também velocista competitiva, acaba de retornar de uma clínica de seis meses no Canadá. Até o cão labrador da família passa o dia dentro da piscina quando Cesão está em casa. O cordão umbilical entre os Cielo é forte e assumido. Em momentos de tensão, emoção ou saudade – o que, para o nadador em Auburn, pode ser sinônimo de todos os dias ou várias vezes por semana –, Cesão telefona para casa.
Em geral para extravasar, desabafar, xingar e depois sossegar. Raras vezes para pedir conselho. Os pais aprenderam a ficar horas só ouvindo. Embora Cielo traga as emoções sempre escancaradas, ou talvez justamente por isso, nem sempre é fácil ser seu treinador. “Ele não tem medo de revelar uma ampla gama de emoções na frente de todos, e isso às vezes é problemático”, admite Brett. Sua permanente cobrança a si mesmo costuma deixar o grupo sem compreender por que ele sai arrasado de um treino no qual tem desempenho melhor do que os demais. Resposta: porque ficou aquém de sua própria expectativa.
Brett reconhece que foi graças ao pouso inesperado de Flávia Cielo em Auburn, em janeiro deste ano, para uma conversa franca, que as arestas mais emotivas foram aparadas. “Ela me abriu o mapa de sentimentos mais profundos do atleta”, diz o técnico. “Limpamos o terreno.” Quanto às diferenças técnicas entre as prioridades de Auburn e as da CBDA, elas já haviam sido solucionadas dois meses antes, quando Ricardo de Moura desembarcou na cidade com uma agenda na mão. Foi, possivelmente, a primeira visita de um diretor-técnico estrangeiro para tratar de questões envolvendo um atleta bolsista. [...]

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"Prematuro, narigudo e feinho que só a nossa senhora" ???
quase inacreditável... :O
mas acontece ne... eu nasci linda... careca, "zarolha", gorduxinha e agora, bom... e agora eu prefiro nem comentar. ashauihsauihsuia
eu só tÔ com mais cabelos, ajeitei os olhos e ganhei um corpinho mais ou menos... haha
nada demais.. rs
Ahhh gente.. rs
eu vou indo tá?
mais tarde... ou amanha... eu volto por aqui.. ;)
BJOSSSSSSSSS

2 comentários:

Déa disse...

hHAHAHHAHAHA
que descrição hein Jack!
hahahhahahaahah
Cesãoo é Lindooo .. e MARAA!
hahahhahahaha


beijos..


P.S: Que vizinhos hein!?
hahahahahahah

Lucinha disse...

Pra quem nasceu com essas características (no caso do César), ele deu uma bela "ajeitadinha"...
rsrsrsrsrsrsrsrsrsrs