sábado, 4 de agosto de 2012

Cielo não lamenta bronze, mas diz: 'Peço desculpas, não foi suficiente'

Nadador valoriza conquista em Londres: 'Ficar chorando sobre isso seria perda de tempo e coisa de mau perdedor. Não foi uma performance perdida'

O olhar era de quem pouco havia dormido à noite. Cesar Cielo, porém, tentava esconder o cansaço com um sorriso contido. Ainda que não fosse a medalha esperada, o bronze estava ali, guardado com cuidado no bolso esquerdo do casaco. Se o reinado olímpico nos 50m livre já estava em outras mãos, o nadador preferiu valorizar a conquista nos Jogos de Londres. Neste sábado, em entrevista coletiva na Casa Brasil, deixou escapar uma dose de frustração em frases soltas, mas afirmou que não vai demorar a afastar o desânimo
- Sinceramente, eu nadei para defender o título. Queria ganhar os 50m livre mais um ano. Não foi a noite que imaginei para mim, mas tenho a medalha no bolso. Agora, bola pra frente, é mais uma medalha importante. Já são nove, contando os Mundiais. Não posso em momento algum reclamar da minha carreira, é mais um ano no pódio (...). Peço desculpas, não foi suficiente. Era o que eu tinha (...). Lógico que eu gostaria que fosse de outra cor, mas ficar chorando sobre isso seria perda de tempo e coisa de mau perdedor. É mais uma medalha olímpica que vou colocar na minha carreira e começar a pensar mais para frente. Agora, está muito recente. Quem sabe nos próximos anos vai ser uma medalha que vai fazer parte de muito orgulho da minha carreira.
Cielo, Natação (Foto: João Gabriel Rodrigues / Globoesporte.com)

Cielo diz que o cansaço antes da prova era grande. A cada braçada, tentava acelerar, mas as pernas pareciam mais pesadas do que nunca. O nadador afirma que o desgaste por conta da prova dos 100m foi determinante, mas voltou a ressaltar: não foi uma performance perdida.
- Não vou usar isso (cansaço) como desculpa. Já fiz o programa várias vezes, mas ontem me senti realmente cansado. Passar quatro dias de competição não é fácil. Eu arrisquei de ver o que poderia fazer dos 100m e conquistar uma medalha. Foi a opção que a gente fez. No esporte, a gente faz a opção e acredita até o fim porque não tem como voltar atrás para mudar o trajeto. Mas fiquei contente de conquistar o bronze. Não foi uma performance perdida.
Logo após a prova, nadadores como Fabíola Molina e Tales Cerdeira disseram no Twitter que o barulho da torcida teria atrapalhado a largada de Cielo. Um pouco mais de silêncio, ele diz, realmente seria melhor. Mas afirma que o ouro escapou por uma série de outros fatores
- Poderia ter sido um momento a mais de silêncio, mas o francês (Florent Manaudou) largou naquele momento da mesma forma. Foi uma situação igual para todo mundo. A perna também estava um pouco mais cansada. Foi uma série de fatores, não vou falar que o barulho me tirou o ouro.
Cielo diz que chegou a Londres sentindo estar na melhor fase da carreira. Queria comprovar na piscina e conquistar o bi olímpico. Não deu. A todo momento, repetia: "Bola para frente". E, mais para frente, ele diz, será a hora de buscar o bi mundial, no ano que vem, em Barcelona.
- Em todas as competições internacionais, vou chegar sempre na melhor forma que posso chegar. Dessa vez, achava que tinha chegado na melhor forma da minha vida. Mas não dá para achar que toda hora que é favorito vai ganhar. Tem que ser esperançoso sempre. Sou um cara que tem medalhas que poucos atletas do mundo têm. Pouca gente pode dizer que tem medalha olímpica. Eu posso chegar e dizer que tenho três. Seria um desrespeito dizer que foi uma decepção. Vamos ver o lado positivo. É hora de colocar mais uma medalha no quadro de medalha. E continuar confiante, faz parte do jogo. Ano que vem, vou defender meu título mundial em Barcelona.
Para Cielo, o sonho do bicampeonato olímpico não chegou ao fim em Londres. Aos 25 anos, diz ter forças para continuar nadando os 50m, ainda que cogite deixar os 100m de lado.
- Eu estou tranquilo, nos 50m dá para nadar por um bom tempo. O Gary Hall ganhou com mais de 30, a Dara Torres nadou até depois dos 40... Estou tranquilo, vai dar para nadar por um bom tempo. O treinamento não consome muito o atleta. Ainda bem que sou velocista, se fosse fundista não ia conseguir ficar por muito tempo. Na hora que não tiver mais saco para treinar, vai ser o momento de parar. Agora, aos 25 anos, é muito prematuro. Estou empolgado para continuar buscando meus tempos. E bola para frente.
Ao lado de Cielo, Thiago Pereira tinha o riso mais solto. Não escondeu a surpresa por ter conquistado a prata justamente na prova que pensava ter menos chances, nos 400m medley. Mas, ao falar do amigo, também valorizou o bronze do companheiro de treinos.
- Cesar batalhou muito para conquistar o bi. Estive presente na preparação dele durante um ano. Foi muito bom estar com ele, aprendi muita coisa, apesar de serem provas bem diferentes. O sonho é o mesmo. Tenho certeza absoluta que, se fosse melhor de cinco, ele ganharia quatro. Mas o esporte é feito disso.

GLOBO

Nenhum comentário: