segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Para Cielo, fabricar um recordista mundial leva pelo menos dez anos

Campeão olímpico se destacava na infância e foi lapidado pelo técnico que orientava Gustavo Borges. A evolução se completou nos EUA


Cesar Cielo deu suas primeiras braçadas no parque aquático que hoje leva o seu nome, em Santa Bárbara do Oeste (SP), sua cidade natal. Ele começou a nadar aos oito anos por incentivo dos pais. Dali até o ouro olímpico conquistado em Pequim, em 2008, foram 13 anos e milhares de quilômetros percorridos nos treinos. O atual recordista mundial dos 50 metros livres sabe que cada segundo trabalhado dentro d'água foi muito importante nessa empreitada. Assim como também é com outros campeões da natação.

- São muitos anos, eu diria que uma década aí no mínimo (para se formar um recordista). Difícil ver um cara com 16, 17 anos, pelo menos no masculino (no feminino pode ser), bater recorde mundial com essa idade. É uma coisa muito rara, né? - opinou Cielo, em entrevista ao "SporTV Repórter".

Para Cielo, foram anos de trabalho e sempre com muita persistência. Pois se na adolescência ela já se destacava, na infância nem sempre vinha uma medalha.

- Quando eu estava com 13 anos, era infantil 1, no ano inteiro a melhor posição que eu peguei foi um quinto no Nacional. No Brasileiro que eu treinei mais, a melhor posição foi décimo. E ainda teve um 26º na categoria (risos) - recordou.

Dois anos depois, entretanto, os resultados começaram a aparecer, e a mãe de Cielo conheceu Alberto Silva. Ele era técnico de Gustavo Borges, que na época brilhava como grande ídolo da natação nacional: quatro medalhas em três Olimpíadas - duas de prata e duas de bronze.

O encontro com Albertinho foi em uma palestra que ele estava dando em Campinas. Podia ser uma promessa que chegava nas mãos do treinador como outros tantos, mas não era. Cielo tinha 15 anos, e o primeiro trabalho do técnico foi enxergar que ali estava um nadador que poderia ser transformado em um campeão. Estatura, tamanho dos pés e das mãos... Tudo era acima da média para a idade.

- Cielo tinha tanto as características físicas quanto técnicas, como uma atitude já de quem quer buscar uma carreira internacional. Então, isso é o que me chamou atenção. Ele estava disputando uma Copa do Mundo com atletas internacionais, mais velhos, e a atitude de já querer passar à final e querer mostrar um resultado. Essa maturidade, com 15 anos, foi o que me chamou atenção também - lembrou Albertinho.

A hora que o bronze veio parece que tirou tudo de ruim. Eu andava e me sentia mais leve"
Cesar Cielo

Cielo agradou tanto que foi convidado para treinar no Pinheiros, em São Paulo. No início, a mãe do nadadador, Flávia Cielo, ficou preocupada pelo fato de o filho ter que ir sozinho para a capital do estado. Mas a chance de treinar com o ídolo Gustavo Borges falou mais alto.

Em 2004, Borges se despediu do esporte sem medalhas nas Olimpíadas de Atenas. Foi ano em que Michael Phelps brilhou com seis ouros. Os americanos, aliás, conquistaram 28 medalhas ao todo, e isso abriu os olhos de Cielo para a Terra do Tio Sam.

- Senti que era o momento de abrir uma nova janela de motivação, de oportunidade na minha vida. Queria continuar estudando na época. Apareceu oportunidade de bolsa em faculdade, de aprender uma língua nova e de treinar com os americanos, que são os caras mais fortes do mundo - disse o campeão olímpico.

Bronze, a medalha mais importante

E assim Cielo foi. Chegou como mais um, mas com o tempo passou a ser o principal destaque da equipe. Pouco antes das Olimpíadas de Pequim, ficou em quarto lugar em uma prova disputada na Europa, o MareNostro, perdendo para três nadadores dos quais costumava superar. Veio, então, o questionamento se as decisões na carreira foram realmente as certas. Mas, tudo se acalmou com o... terceiro lugar nos 100 metros, na China.

- A hora que o bronze veio parece que tirou tudo de ruim. Eu andava e me sentia mais leve. Por isso que eu falo que a medalha de bronze olímpica foi a mais importante da carreira, foi ali que parece que saiu tudo, foi a exorcismo de tudo que eu tinha de ruim dentro do corpo.

Assista à integra do último "SporTV Repórter" (Fábrica de campeões) AQUI

A sequência dessa história está na mente de muitos brasileiros. Depois do bronze nos 100m, veio o ouro nos 50m. Hoje, Cielo colhe os frutos de tudo o que plantou. Vem mostrando que a medalha de ouro em Pequim não foi obra do acaso, nem um dia de sorte. Conquistou o primeiro lugar em Mundiais de 2009, 2010 e 2011. É a regularidade de um legítimo campeão.


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