DESISTI DA VIDA [1936052748]

Imagina a situação: você acorda de um sonho com o Prêmio "Faz Diferença" d'O Globo e lembra que ele foi ontem.
Aí você levanta correndo na intenção de correr atrás de notícias sobre ele. Mas como a primeira coisa que você abre na internet é o Twitter, você dá de cara com dois links de uma campanha do Cesão.

Imagina você vendo assim que chega na internet essa foto:

PAREI T-U-D-O!!! CHAMEI A NASA, A COPÉLIA E DESISTI DEMAIS DA VIDA!!!

FONTE: Tumblr de Jaime Pilnik e Renan Rêgo

Mas calma... isso não é tudo! Tem matéria, entrevista e mais fotos...

Cesar Cielo - Deus das águas

A campainha toca. É Cesar Cielo quem chega, ou melhor Cesão: vestindo camiseta polo LOS DOS, equilibrando um pacote de drive-thru nos longos braços. O campeão está faminto. Mas não a ponto de dispensar um papo enquanto cabula a dieta de atleta: 6 mil calorias balanceadas por dia, para 4 mil "queimadas" por treino, que ao final de uma semana somam 40 quilômetros de braçadas, além de três sessões de musculação (rotina que quando quebrada pelas férias anuais, de um mês, excluem até sete quilos do peso corporal do atleta, que recupera a massa muscular com facilidade). "De vez em quando, pode", explica ele, entre uma mordida e outra num super sanduíche. E, assim, em pé e comendo, Cesão conta da vida, fala sobre a mãe, Flavia, professora de Educação Física e sua grande incentivadora e empresária – junto a Alê Ramalho –, e comenta o retorno para Auburn, Alabama, onde tem trancada a matrícula na universidade de Comércio Exterior, e já sentiu o cabelo congelar durante um treinamento a céu aberto. Por lá, ele agora mora na casa do francês Frederick Bousquet, um de seus principais adversários nos 50 metros livre, do qual Cesão saiu recordista mundial, em 2009. "Nós somos amigos, bem longe da piscina (risos). O Fred está passando uns tempos fora, e estou locando a casa dele". E papo vai. Sem citar nomes ou contar vantagem, Cesão dá a entender que está bem com as garotas. Quem escuta, entende que ele está é bem demais. Ele sorri, sem concordar ou discordar, dando continuidade à prosa. Tudo muito à vontade, e com o celular desligado, para dar atenção total a quem está com ele, ao vivo. Vamos acelerar?

Sim, vamos. O tema desta revista, afinal, é velocidade. Ou como diz Cesão, 23 anos, "velô". Coisa de quem tem (muita) intimidade com o assunto. Gravador ligado, Cielo começa: "Acredito que o velocista seja nato, o da piscina, do atletismo ou do automobilismo. Na natação, o cara pode até não estar muito bem treinado, mas se está feliz e confiante, ele consegue. Ele nasceu pra isso, para a velocidade", interpreta. "Velocidade é ser fera", completa. Não há como duvidar, ainda mais vindo a afirmação de quem vem. "Nas provas, eu sempre tenho o compromisso de me superar e não o de vencer os outros. E uma coisa é certa: tenho que estar feliz para chegar lá. É muita pressão", revela o atleta que, como mostra sua trajetória, anda muito bem consigo mesmo e com o alto astral.

A tal pressão, no entanto, só existe entre raias. "Fora d'água, sou muito zen, até meio preguiçoso". É um tanto difícil acreditar na parte da preguiça, já a tranquilidade é notória. O veloz nadador topou na hora a caracterização de Netuno, o rei das águas na mitologia romana, para as fotos que você vê aqui. O tom era de brincadeira, então Cesão Cielo mergulhou fundo, e até passinhos de samba à la carnaval de Santa Barbara D'Oeste (sua cidade natal, seu time é o União Barbarense), ele arriscou dentro do figurino. Isso, antes de entrar no set de fotos e se divertir, divertindo a todos, com explosões de gargalhadas seguidas a cada comando de "grita!", vindo do fotógrafo. Cesão não é de gritar, nem de levantar a voz. Berra de emoção a cada conquista nas águas, é verdade. E ficou (muito) bem nas fotos, vai!? Pra quem diz que quer amedrontar os adversários antes das provas (veja entrevista), esta imagem pode ser um bom começo. Olha só. Fato é que poucas coisas o tiram do sério, e nada parece lhe atiçar a fúria. "O que me incomoda um pouco é a vigilância das pessoas. Tem gente que invade, que acha que sou um robozinho, que só treina, come e dorme. Não é bem assim. A diversão só ajuda no meu desempenho", deixa claro o atleta, relacionando mais uma vez felicidade e velocidade. No mais, nem mesmo as fofocas que o envolvem, o perturbam. Sobre nota publicada em um jornal a respeito de um carro de luxo que teria sido comprado por ele, responde, com calma "Não tô sabendo, não", e depois comenta, "Mas adoro carros, dirigir. Meu pai (o pediatra Cesar Cielo) também é muito ligado. Ele sempre me dava revistas segmentadas, essas coisas. Gosto muito de Fórmula 1, Indy, por influência dele. Pena o meu tamanho não colaborar muito para o cockpit", ri. O cara tem 1,95 de altura, e ombros mais que largos.



Ok, nós temos Lucas di Grassi nas pistas, para garantir. O macacão de Cielo é outro. Quer dizer, era. E ele não se preocupa com a tão comentada nova regra da natação, que proíbe o uso das roupas tecnológicas nas piscinas. Agora, só bermuda. "O tempo vai aumentar um pouco sim. Mas talvez bem menos do que o pessoal está falando. Nos 50 metros, acho, vai dar uns 30 centésimos pra cima. A diferença maior, acredito, se dará na recuperação pós-prova, que é muito mais rápida com a roupa". Cesão Cielo vai tirar de letra. Ele está feliz, afinal. E é fera, muito fera. Durante os aproximados 4 minutos em que você lia este texto, ele poderia ter feito os 50 metros livre (cujo recorde mundial é dele, com 20s91) mais de dez vezes. Ou os 100 metros livre (outro recorde mundial do garoto, 46s91), cinco vezes e meia, mais ou menos. Vai encarar.

Quando e como se apaixonou pela velocidade?
Aos poucos. Antes da China (Olimpíadas de Pequim, 2008), nunca tinha ganhado uma competição de primeira. Fiquei em 13º lugar no primeiro brasileiro que competi, era muito novo, tinha 16 anos, o Gustavo (Borges), o dobro da minha idade. Daí que eu sempre saía da água pensando "Pô, ainda vou levar essa prova", aí, eu voltava, e vencia. E assim, fui me apaixonando. Hoje acredito que o velocista é nato, tudo depende da determinação e da felicidade.

Quem é seu ídolo na velocidade?
Não sou fã incondicional de ninguém. Admiro uns atletas e tento pegar boas características deles como referência. Acho o (tenista Roger) Federer bacana por ele ser um supercampeão e continuar competindo e vencendo. Essa motivação é algo que busco. Eu cresci assistindo o Popov levar todas as provas de velocidade na piscina, e tento absorver o equilíbrio psicológico dele, as conquistas frequentes dele me mostram que quem ganha faz alguma coisa a mais que os outros. Admiro o Popov também porque ele dava medo nos outros competidores antes da prova. Ainda não amedronto ninguém antes da prova, ainda. (risos) Mas quero amedrontar.

Quando é preciso desacelerar?
Faço tudo para poupar energia fora das piscinas. Quando tenho a opção de usar a escada ou a escada rolante, vou na segunda. Sou zen e até meio preguiçoso fora d'água.

E quando é o momento de ir rápido, fora das piscinas?
Para resolver pendências. Uma vez levei uma multa de trânsito nos Estados Unidos às sete e dezessete. Paguei às sete e trinta e quatro.

Quais suas piscinas prediletas?
A do Pinheiros, sem dúvidas, que foi onde comecei a crescer, a da China (Olimpíadas de 2008, medalhas) não vai sair da minha cabeça nunca, e a da Itália que foi a minha confirmação (recorde mundial dos 100 metros livres, 2009).

E qual é a mais desafiadora?
Por enquanto, 100 livre no Mundial de Roma. Eu nunca tinha ganhado, e sabia que estava com os melhores adversários que eu podia ter. Digo que foi uma vitória verdadeira porque nenhum atleta se lesionou, rasgou maiô, tava todo mundo pronto ali.

Quais as perspectivas para a temporada de 2010?
Este ano será menos intenso que 2008 e 2009, que tiveram Pan e Olimpíadas. Meu treinamento é para o troféu Maria Lenk, em maio, para o Paris Open, em junho, e para o Pan Pacifico em agosto, onde vou colocar tudo à prova. 2010 servirá para acertar o molde para em 2011 estar com o treino pronto para as olimpíadas.

Indique um som para quem quer acelerar.
Eletrônico, sempre. A batida vai dando a vibração. O que mais curto é David Guetta e Dad Mouse. Mas vai do momento. Às vezes, eu escuto música instrumental clássica antes da prova e fico vendo aquela cena do filme Rocky Balboa na minha cabeça (ri). É sério: fico imaginando o Balboa lá correndo, treinando, depois levantando a mão (ri). O meu entusiasmo vai crescendo junto com a música.



FONTE: Revista Los Dos


Se ainda tiver alguém vivo aí, mas tarde eu volto pra postar coisas sobre o prêmio d'O Globo.

Agora é hora de me recuperar...

Beijocas Celestes