terça-feira, 1 de outubro de 2013

Cesar Cielo critica: 'Não podemos viver das máscaras dessas medalhas'

Campeão mundial em Barcelona pede calendário de competições no Brasil mais consistente e 'cópia' dos modelos das federações de EUA e Austrália


A conquista de dois ouros no Mundial de Barcelona foi uma recompensa para Cesar Cielo. Depois de dez meses dedicado à recuperação de uma cirurgia nos dois joelhos, o recordista mundial colheu os frutos de sua dedicação durante a fisioterapia e os treinos com o técnico Scott Goodrich. Mas, longe de se vangloriar do feito, o medalhista olímpico espera que seus títulos não escondam as deficiências da formação de novos talentos nas piscinas brasileiras.

Em entrevista concedida ao jornal “Folha de S.Paulo”, Cielo voltou a bater na tecla de que a estrutura do esporte verde-amarelo precisa ser reformulada e seguir modelos comprovadamente vencedores, como os de Estados Unidos e Austrália.

- Não precisa mais de investimento em cédula, não quero mais dinheiro, tem que investir em quem está aparecendo, dar chance de competir. Sou a favor da cópia. Se dá certo, por que não copiar? A USA Swimming (federação americana) e a Austrália também têm modelos que têm de ser seguidos. A gente não pode mais viver dessas máscaras das medalhas. Temos lá seis ouros em Mundiais, mas as arquibancadas do Maria Lenk estão vazias.

Cielo afirmou que houve evolução individual de vários atletas da seleção, mas que a estrutura não acompanhou as necessidades técnicas destes. O campeão olímpico destacou ainda que a natação e outras modalidades sobrevivem devido ao esforço dos clubes, mas lamentou a ausência de um calendário de competições mais amplo e consistente.

- Qual é o cartel de competições que a gente tem? Tem Maria Lenk, José Finkel e Open. Na agenda de Grand Prix da USA Swimming tem uma competição por mês. É como no tênis. O cara não tem dinheiro para viajar para jogar em Dubai, mas pode jogar o ATP 250 aqui na América do Sul. Tem que ter em todos os lugares, tem que fazer competição no Nordeste porque o pessoal não tem dinheiro para viajar.
Nova lesão grave faria Cielo repensar a carreira
Cielo sofria com uma tendinopatia patelar nos dois joelhos desde 2007. A cada competição, o esforço contínuo pela explosão muscular nas provas de velocidade fez o quadro se agravar e a dor aumentar. Depois do bronze nos Jogos de Londres, o paulista decidiu que era preciso zerar o problema para voltar a competir entre os atletas de alto nível.
Em setembro do ano passado, decidiu operar o tendão patelar. A cirurgia foi um sucesso, mas foram necessários 10 meses de recuperação. Ele, que sempre havia lutado contra o cronômetro, teve que aprender a ter paciência. Foram sessões diárias de fisioterapia e trabalhos específicos para a reconstrução dos músculos. No Mundial de Barcelona, foi recompensado com ouro nos 50m livre e nos 50m borboleta.

Apesar da vontade de brigar para retomar o título olímpico em casa, nos Jogos de 2016, Cielo avalia que se manter sem lesões é um ponto importante neste processo. Caso um obstáculo semelhante se apresente em seu caminho, o velocista não sabe se terá forças para recomeçar.
- Desde a cirurgia até o Mundial eu não tive tempo para mim. Tinha fisioterapia todo dia. Daqui a alguns anos, vou olhar para trás e ver que foi uma coisa de maluco mesmo. Desisti de dez meses da minha vida em prol da performance. Se eu já era caxias, virei caxias ao cubo. Chegou ao ponto de eu, às vezes, não querer voltar para a casa dos meus pais (em Santa Bárbara d'Oeste) porque não gostava da cama lá, não descansava direito e, no domingo, eu precisava acordar bem porque tinha fisioterapia. Não sei se faria de novo. Espero não ter mais uma lesão dessa na carreira. Se acontecesse, sinceramente, seria o momento de refletir se vale a pena passar por tudo isso de novo.

Natação 'só piorou' após ouro olímpico, afirma Cielo


As últimas três semanas de treino foram melhores do que todo o ano que passou. Cesar Cielo, 26, voltou à piscina depois das férias após o Mundial de Barcelona.
Agora sim sente que está de volta. As duas medalhas de ouro, nos 50 m livre e nos 50 m borboleta, devolveram ao melhor nadador brasileiro de todos os tempos a confiança abalada após uma cirurgia nos dois joelhos, realizada em setembro de 2012.
"Desisti de dez meses da minha vida em prol da performance", afirma à Folha após um treino no Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa, em São Paulo.
Enquanto volta à rotina, o campeão olímpico nos Jogos de Pequim-2008 assiste satisfeito ao movimento de ex- -atletas que pressionam por mudanças na administração das entidades esportivas.
E não esconde sua insatisfação com a falta de competições e de estrutura nas piscinas pelo país. "Temos lá seis ouros em Mundiais, mas as arquibancadas do Maria Lenk estão vazias", diz.
Com seu ouro em 2008, esperava-se um boom da natação. Você acha que o efeito Cielo foi aproveitado?
Em números de atletas, a gente andou para trás. Se pegar o número de federados de dez anos atrás, não posso falar com certeza, mas se aumentou duvido que tenha sido de forma significativa. E isso para um esporte em que a gente ganha medalha desde 2008 todos os anos. A parte estrutural só piorou. O que melhorou foi o grupo [da seleção]. Todos foram crescendo juntos, é uma grande equipe. Evoluíram muito a parte técnica, a capacidade dos atletas, mas em estrutura...
Por que você acha que isso aconteceu?
Sinceramente, não sei. Em Santa Bárbara [d'Oeste, a 135 km de São Paulo, onde Cielo nasceu], a equipe em que nadei chegou a ter 200, 300 nadadores. Hoje tem 40 ou 50. Há muitos projetos de iniciação pelo país, mas o cara aprende a nadar e só treina, treina, treina. Não tem competição. Você vai fazer um projeto de um time de basquete e deixar os caras fazendo treinozinho na quadra? Eles têm de competir, ter oportunidade de aparecer. Nossa mentalidade hoje no Brasil é muito voltada para a iniciação, mas se a gente quiser resultado lá no pico da montanha tem que ser mais específico, tem que investir no alto nível também.
Falta visão de processo?
O processo é um funil, começa com mil para talvez ter um que vai dar certo. O esporte no Brasil hoje está vivo por causa dos clubes. É difícil do nosso lado também [dos atletas de elite]. Qual é o cartel de competições que a gente tem? Tem Maria Lenk, José Finkel e Open. Na agenda de Grand Prix da USA Swimming [federação dos EUA], tem uma competição por mês. É como no tênis, o cara não tem dinheiro para viajar para jogar em Dubai, mas pode jogar o ATP 250 aqui na América do Sul. Tem que ter em todos os lugares, tem que fazer competição no Nordeste porque o pessoal não tem dinheiro para viajar.
Falta avaliar melhor em que investir o dinheiro?
Não precisa mais de investimento em cédula, não quero mais dinheiro, tem que investir em quem está aparecendo, dar chance de competir. Sou a favor da cópia. Se dá certo por que não copiar? A USA Swimming e a Austrália também têm modelos que têm de ser seguidos. A gente não pode mais viver dessas máscaras das medalhas. Temos lá seis ouros em Mundiais, mas as arquibancadas do Maria Lenk estão vazias.
Jogadores de futebol se movimentam contra o calendário da CBF. Ex-atletas, como Hortência, Raí e Ana Moser, pressionaram os congressistas pela MP para moralizar a administração esportiva. A participação dos atletas é um caminho para mudanças?
Fazer só barulho não adianta. Tem que fazer [pressão] de forma política, não tem jeito. E nessa parte o esporte precisa dos ex-atletas em ação. O atleta na ativa é um alvo muito fácil. É muito fácil prejudicar um cara desses. Por isso precisamos do pessoal que parou entrando em cena. Quem foi para competição internacional sabe como é, o massagista [da natação dos EUA] foi atleta olímpico. O cara para de nadar, mas continua envolvido no esporte. Técnicos ou até dirigentes dos EUA são ex-atletas olímpicos, a linguagem deles é a de quem fez natação, sabem do que estão falando.
A limitação dos mandatos pode ajudar a mudar o esporte?
Espero que sim. Tem que ser tudo mais claro. Muita gente não está satisfeita, a gente tem que evoluir, independentemente de a Olimpíada ser aqui ou não. Tem que dar um passo para frente, ter outras visões. Não falo em mudar tudo de uma vez, mas fazer as decisões serem mais voltadas para os atletas, em prol da performance, mais do que politicamente ou financeiramente falando.
Você vai chegar à primeira Olimpíada no Brasil como uma das principais estrelas do esporte nacional. Tem ideia do que vai ser isso?
A gente viveu isso no Pan [em 2007], mas não dá para comparar. Não sei direito como vai ser. Aqui no Brasil nenhuma geração teve o que a gente vai ter. No futebol, os jogadores já estão acostumados, é o esporte do país. Mas para os esportes olímpicos, se alguém disser que está preparado para o que acontecerá, vou querer uma conversa.
Os dirigentes sabem o que esperar?
Acho que nem as próprias confederações [sabem]. Quem foi para a China [2008] e para Londres [2012] sabe, é um evento que o mundo todo vê, são todos os esportes, delegações de 300 atletas, a Vila Olímpica é uma coisa de outro mundo. Acho que será um aprendizado durante o processo. Espero que com a Copa, independentemente do resultado, a gente aprenda a lidar com essa abordagem.
A preparação para a Olimpíada é algo que te preocupa?
Acho que isso está na cabeça de todo mundo que já foi a uma Olimpíada. Quem viu de perto sabe como é. Às vezes, está tudo tão quieto aqui que a gente fica com um pouco de medo. Como atleta e cidadão a gente torce para que sejam tomadas as decisões mais certas. Não tem nem como falar de outra forma: é só tomar a decisão que é melhor para o atleta, para a competição, e não deixar a política ou a parte financeira influenciarem.
Você chegou ao Mundial de Barcelona temendo não ir ao pódio após a cirurgia nos joelhos e saiu de lá com dois ouros. O que avalia que fez de positivo nesse processo?
O mais positivo foi o trabalho individualizado com o Scott [Goodrich, norte-americano que é seu treinador]. Era o que eu estava precisando, essa coisa de não deixar acomodar, de ele estar em cima olhando cada braçada torta que eu desse. O processo fora da piscina foi muito bom, fez muita diferença. Até nadar pelo clube de campo [de Piracicaba] de novo, não ter que brigar por pontuação para o clube e não nadar revezamento no Maria Lenk. Foi um ano que a gente tirou para ser um pouquinho mais egoísta, mas era o que precisava, deixar que só a cicatrização [dos joelhos] fosse um empecilho.
Foi um processo difícil...
Desde a cirurgia [em setembro de 2012] até o Mundial [em julho], não tive tempo para mim. Eu tinha fisioterapia todo dia. Daqui a alguns anos, vou olhar para trás e ver que foi uma coisa de maluco mesmo. Desisti de dez meses da minha vida em prol da performance. Se eu já era caxias, virei caxias ao cubo. Chegou ao ponto de eu, às vezes, não querer voltar para a casa dos meus pais [em Santa Bárbara d'Oeste] porque não gostava da cama lá, não descansava direito e, no domingo, eu precisava acordar bem porque tinha fisioterapia. Não sei se faria de novo. Espero não ter mais uma lesão dessa na carreira. Se acontecesse, sinceramente, seria o momento de refletir se vale a pena passar por tudo isso de novo.

Manaudou acredita que Cesar Cielo nadará sob pressão nas Olimpíadas de 2016

Francês está na disputa com brasileiro pelo lugar mais alto do pódio nos 50m livre


A disputa entre Cesar Cielo e Florent Manaudou nos 50m livre promete ser boa nos Jogos de 2016. No Rio para a disputa de um torneio amistoso, o francês, atual campeão olímpico da prova, afirmou nesta quinta que espera toda a pressão para cima do brasileiro, que vai competir em casa na Olimpíada. Aos 22 anos, Manaudou não crê que a diferença de idade para Cielo (4 anos) será algo que colocará o brasileiro em desvantagem.

"Acho que a pressão estará toda sobre ele. Tenho mais três anos, ainda, para me preparar. Vou vir como um forasteiro, a pressão será mais difícil para ele", disse o nadador. "Mas será difícil vencê-lo porque ele estará em seu próprio País, com o público a seu favor. Difícil, mas não impossível", afirmou Manaudou, que disputa no domingo com nadadores franceses, australianos, norte-americanos e brasileiros o Desafio Raia Rápida, em Botafogo, na zona sul do Rio.

O francês derrotou Cielo em Londres (o brasileiro ficou com o bronze na prova dos 50m livre, na qual era favorito após a conquista do ouro em Pequim), mas no Mundial de Barcelona, em agosto, o nadador do Brasil conquistou o tricampeonato, derrotando Manaudou.

Em 2016, o francês terá 25 anos e o brasileiro, 29. "Em três anos ele não estará tão velho assim, ainda terá menos de 30. E mesmo acima dos 30 dá para seguir nadando muito bem, como é o caso do Fred Bousquet", disse Manaudou, apontando para o colega francês que estava ao lado, medalhista de prata no revezamento 4x100m nos Jogos de Pequim, em 2008. Aos 32 anos, Bousquet integra o time francês no desafio e afirmou que pretende disputar os Jogos de 2016.

O experiente francês, que esteve no Rio em 2012 para a disputa da primeira edição do desafio, espera a cidade mais segura até 2016. "A segurança é um ponto de preocupação para nós e para as nossas famílias. Mas tenho certeza que tudo estará melhor em 2016", disse. "Sempre que venho ao Rio percebo como amo a cidade mais e mais. A cada ano, percebo ela mais limpa e mais segura".

PROVA - O time brasileiro no desafio é composto por Daniel Orzechowski, João Gomes Junior, Nicholas Santos e Alan Vitoria. Cesar Cielo, Marcelo Chierighini e Bruno Fratus foram convidados a participar, mas segundo os organizadores já tinham outros compromissos.

Cada especialidade (peito, costas, borboleta e livre) terá um nadador de cada país, em competições de 50m: o último é eliminado da etapa seguinte, até restarem somente dois, que disputam a final. Haverá também a disputa de revezamento 4x50m medley entre todos os nadadores. Os organizadores esperam realizar todas as 13 provas na sequência, sem muito descanso para os atletas, no intervalo de somente uma hora.

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