Muita, muita coisa está envolvida com e ao redor de um sujeito como Cesar Cielo. Um cara extremamente competitivo e vencedor. Campeão olímpico, recordista mundial, campeão mundial, campeão pan-americano, brasileiro.
Dá para citar o preparo físico, o talento, o dom. A equipe que trabalha com ele, de técnicos, nutricionistas, médicos, psicólogos, preparadores físicos, companheiros de treino. A capacidade psicológica, um grande trunfo dele, aliás. Aquela força que vem de dentro quando se baliza ao lado dos melhores do mundo, a completa falta de medo e, até, de respeito na hora de encarar cada um e gritar com os olhos: “Vou ganhar de você hoje!”
Dá para falar do planejamento, da preparação, dos patrocínios, parceiros, conselheiros, do respeito. Da presença de ídolos. Afinal, há de se espelhar em alguém, faz bem esse tipo de coisa. Nas oportunidades, no tal “estar na hora certa, no lugar certo, com as pessoas certas”. No apoio familiar, essencial, ainda mais quando se tem pais como Cesar e Flávia, que não apenas torcem pelo filho, mas vivem a vida do filho, estão sempre próximos nos momentos mais importantes da carreira – e, aposto, da vida – dele.
Dá para falar de tudo isso. O que faz com que se possa chegar até à conclusão de que o cara é perfeito, porque se tem tudo isso, oras, o que pode atrapalhar? E é claro que não é perfeito, porque ninguém é, mas tenta-se criar um ambiente perfeito, com tudo isso, para que fique sempre aquela sensação de que tudo o que podia ser feito, foi.
Mas Cielo tem uma coisinha que o mantém no topo, que ele revela em cada entrevista, depois de ganhar ou perder uma medalha.
Ele sente frio na barriga. Tem a mesma vontade de vencer que teve na primeira vez. Tem medo. Sente tremor nas mãos. Calafrios. Sente medo de se decepcionar e decepcionar as pessoas que estão ao redor dele. Medo de decepcionar as milhares, milhões de pessoas que torcem por ele.
Cesar disse, depois de conquistar o bicampeonato mundial dos 50 m borboleta, que fez a si mesmo muitas perguntas antes da final. “E se eu chegar em quinto?”, “E se eu chegar em sexto?”, “E se as coisas não derem certo?”.
Emendou, depois, que pensa no melhor e no pior. Sempre. Porque, afinal de contas, é um ser humano como eu, você e qualquer outro.
O medo de perder, o calafrio, o frio na barriga, a incerteza impulsionam Cesar Cielo nas piscinas. Ele já esteve no lugar mais alto que poderia, mas também já esteve no mais baixo. Experimentou a parte tenebrosa da coisa, e não gostou nada do que encontrou lá.
Por isso, ele faz de tudo para nunca mais perder. Não vai dar certo todas as vezes, mas não é que a coisa até que tem funcionado bem para o cara?
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