SÃO PAULO - Dono de três medalhas olímpicas, nove pódios em
Mundiais e recordista dos 50 m (20s91) e dos 100 m (46s91) no estilo livre, Cesar
Cielo é considerado um dos principais atletas do
Brasil na atualidade e grande aposta para 2016. Nesta entrevista exclusiva, o
nadador de 26 anos conta sua história nas piscinas, fala do projeto social que
ajuda a manter e revela os sonhos para o futuro.
ESTADÃO - Quando e por que você
escolheu a natação como esporte?
CESAR CIELO: Eu já sabia nadar. Sempre acompanhava minha mãe
às aulas de natação - ela era professora no Barbarense. Isso desde bem pequeno.
E meu pai também queria que eu aprendesse a nadar para não se preocupar quando
a gente saía de férias para a praia. Mas comecei a nadar como competição porque
meus pais eram amigos do Mário - que atualmente trabalha nos Estados Unidos
como técnico -, treinador do Barbarense na época, e ele achou que eu poderia
entrar na equipe. Também tentei judô, mas a natação foi o que deu certo. Com 14
anos eu vi que poderia tirar um pouco mais da natação do que simplesmente só
praticar o esporte. Ganhei uma bolsa de estudos em Piracicaba e percebi que
poderia juntar o útil ao agradável. Não sabia ainda onde poderia chegar com
relação ao meu nível na natação. Mas percebi que seria possível nadar, estudar
e ver aonde isso iria dar.
ESTADÃO - Como o esporte fez parte de seu
desenvolvimento?
CESAR CIELO: Posso dizer que minha vida inteira girou em
torno disso, foi construída em torno do esporte. Ele sempre foi uma prioridade,
desde mudar de país, mudar de cidade, tudo foi em cima da natação. As decisões
que tomei foram as que eu achava que seriam as melhores para o esporte. A
competitividade e os desafios que a natação me impunha acabaram sendo mais
fortes até que a parte acadêmica, que a parte do desenvolvimento escolar, na
minha vida.
ESTADÃO - Quais foram as
maiores dificuldades ao se tornar um atleta?
CESAR CIELO: A busca por patrocínios. No meu caso, isso foi mais difícil
no início; e depois, graças a Deus, nem foi tão complicado assim. E aprender a
lidar com a rotina. Aprender que esse é o meu trabalho mesmo e que era preciso
levar a sério. Não se tratava simplesmente de um hobby meu, era a parte mais
importante da minha vida e ela tinha de rodar em torno disso aí.
ESTADÃO - Como é sua rotina de
treinamento?
CESAR CIELO: Faço entre nove e dez sessões de treinos na água por semana,
mais três sessões de musculação e mais uma ou duas de trabalho aeróbico. Em
período de base rodo uns 50 quilômetros por semana, caindo para 30 ou 35
quilômetros semanais no meio da temporada, para chegar no período de competição
um pouco mais leve.
ESTADÃO - Que conselhos você
daria para as crianças que pretendem seguir seus passos?
CESAR CIELO: Acho que antes de qualquer coisa é fazer por
vontade, porque gosta do que está fazendo. Nada do que é forçado dá certo. É
achar alguma coisa que te motive a continuar fazendo aquilo, a ir todos os dias
para a piscina, que é o mais importante. Depois, é fixar objetivos pessoais,
que também sempre podem motivar. É essencial exigir um pouquinho mais de você
para buscar a melhoria. E melhorar é sempre um fator de motivação. Então, acho
que é isso: fazer porque gosta e buscar motivação para continuar a crescer.
ESTADÃO - Como é o projeto
social que você ajuda a manter?
CESAR CIELO: O Novos Cielos é um projeto do Instituto Cesar Cielo que,
atualmente, tem polos em três cidades - São Paulo, Limeira e Santa Bárbara
D’Oeste. São Paulo está um pouquinho na frente porque conseguimos um investidor
para esse ano. Basicamente é ajudar a oferecer estrutura para essa garotada
mais jovem. Os atletas mais novos, que começam na natação, nem sempre têm apoio
para viagens, competições e treinos. A proposta do Novos Cielos é bancar desde
a estrutura, de cuidar da piscina, até o material físico e humano, de buscar
professores para manter um nível de treinamento bacana. Sem contar a parte de
competições, que é bancar algumas despesas com inscrições e viagens. Às vezes os
locais são distantes e os nadadores não têm como bancar o deslocamento e a ida
para a competição.
ESTADÃO - Qual é a sensação de poder contribuir
para uma modalidade muito praticada no Brasil?
CESAR CIELO: Eu não penso se a modalidade é muito praticada ou qual vai
ser o retorno para a modalidade em si. Na verdade, acho que o meu jeito de
devolver um pouco do sucesso que obtive para a comunidade do esporte que eu
pratico, que eu gosto e que eu escolhi, seria o projeto social. Tudo o que eu
tenho na minha vida eu devo à natação, então acho que seria uma forma de ajudar
um pouquinho, dando a chance para que outros possam conseguir também.
ESTADÃO - Para finalizar, quais são os seus
sonhos e projetos para o futuro dentro das piscinas?
CESAR CIELO: Bom... Ganhar
a Olimpíada de 2016 aqui no Brasil e continuar com o projeto social, com novos
projetos que aparecerem ou que eu tiver ideia, e continuar trabalhando com a
natação. Quando parar de nadar, acho que vou continuar, indiretamente,
trabalhando com isso. Antes, claro, faz parte de um cronograma de provas
importantes até 2016 disputar o Mundial de 2015 e o Mundial em Piscina Curta de
2014. Sonho também em ser o primeiro atleta a obter três títulos mundiais
consecutivos em piscina longa, nos 50 m livre. Estou treinando para conseguir
esse tricampeonato e talvez o bicampeonato dos 50 m borboleta. No Mundial de
Esportes Aquáticos de Barcelona neste ano tem muita coisa em jogo para mim.
Também quero continuar tendo motivação e dedicação para ser competitivo até 2016
para, quem sabe, chegar bem nos Jogos do Rio e ganhar a prova dos 50 m livre no
Brasil.
ESTADÃO
-
Tudo bem ne amores?? Um beijo grande pra vcs, e boa semana santa!
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