quinta-feira, 19 de julho de 2012


ENTREVISTA DE CÉSAR CIELO NO CRYSTAL PALACE



O velocista Cesar Cielo conversou com os jornalistas nesta quarta-feira (18/7), no Crystal Palace, e disse que vai pensar em sua melhor performance possível, nos 50 m e nos 100 m livre, independentemente dos adversários. "Vou tentar fazer o meu melhor e torcer para que seja suficiente para levar as medalhas", disse o velocista. Na entrevista, Cielo também falou sobre a pressão de ser recordista mundial, das mudanças na natação brasileira após o título nos Jogos de Pequim, em 2008, e sobre o PRO 16.

O foco total será nos 50 m? Os 100 m são a sua segunda prova?
Bom, será um dia de cada vez, uma prova de cada vez. Os 100 m livre vêm primeiro, mas vou nadar como se fosse os 50 m, como se fosse a última prova da minha vida, fazer o melhor, assim como representar o Brasil da melhor maneira possível no revezamento, que é no segundo dia. Estou visualizando os meus melhores tempos. Hoje, a chance maior está em buscar o bicampeonato olímpico nos 50 m, mas toda prova vai ser de fazer o melhor da vida. Sinto que a chance maior está nos 50 m. Mas em Pequim eu nadei os 100 m na raia 8 e ganhei um bronze. Não vou descartar em nenhum momento a minha possibilidade de brigar pela prova dos 100 m, até porque nos últimos anos eu venho me mantendo entre os cinco melhores do mundo. Vou tentar fazer tempo melhor que o do Pan-Americano nos 100 m, o meu melhor tempo da vida nos 50 m, fazer o meu melhor e torcer para ser suficiente para levar as medalhas.

Sobre a diferença entre as duas passagens pelo Crystal Palace, para treinos e agora, mais perto dos Jogos
A piscina está mais bonita e mais rápida e eu me sentindo melhor. Naquela fase, a gente ainda estava em período de crescimento de treinos de força, de resistência, de velocidade. Agora, diminuindo os treinos, o corpo vai ficando mais leve, mais forte. Quanto mais perto da competição para a gente da velocidade é melhor, a gente vai treinando menos, se sentindo melhor, vai ficando tudo mais alegre, mais positivo, a gente está bem empolgado, bem feliz mesmo. Acho que estou no caminho de fazer os melhores tempos da minha vida.

Sobre ser recordista mundial - a bagagem conta ou ainda vai aumentar a pressão
Na verdade, não conta para nada. Em Olimpíada, volta tudo para a estaca zero, o campeão mundial, o recordista mundial ou o nono do ano passado, estão todos brigando pelas mesmas medalhas. Tem de entrar como se fosse a primeira vez, brigando como qualquer outro atleta. Esse recorde aí não vai me fazer bater na frente de ninguém se eu não nadar a minha melhor prova. Estou pensando em fazer aqui o melhor tempo da minha vida, independentemente se vai ser o melhor da competição ou não, o melhor da história ou não. O mais importante agora é conseguir executar a prova no momento de ansiedade. O resto está fora do meu controle.O que eu posso fazer é o meu melhor na piscina e torcer para isso ser suficiente.

Única derrota que sofreu nos últimos anos foi para o Nathan Adrian. Ele não está aqui. Acha que pode sair recorde mundial numa das duas provas aqui, seu ou de seus adversários, do James Magnussen, nos 100 m, por exemplo?
Estou esperando que sim. Você tem de estar na expectativa de que seus adversários possam fazer o melhor tempo da vida e tentar, sim, imaginar uma situação dessas. Não dá para contar com adversário vacilando. O primeiro tipo de derrota começa aí, você torcer para que alguém faça uma prova ruim. Uma Olimpíada em que tudo pode ocorrer, só tem gente boa. O Mundial de Xangai, no ano passado, já deu uma base do que pode ocorrer. Aqui é um campeonato um pouco mais especial, podem ocorrer surpresas. Estou buscando os meus melhores tempos sem os trajes, imaginando aí o 21s30 e o 47s84 que tenho do Pan-Americano. Se o Nathan está dentro ou fora, ao meu ver, é ainda mais difícil. Se o Nathan está fora é porque tem dois nadadores melhores do que ele. Então, não é uma tranquilidade. Tem de ficar esperto porque entrou um campeão olímpico e um cara que já nadou muito bem nos últimos anos, que é o Cullen Jones.

Favoritismo nos últimos quatro anos
O que eu sempre pensei e continuo pensando é em achar algum 'buraco' na prova, em como executar melhor alguma coisa e tentar fazer isso num momento em que está todo mundo ansioso, nervoso. Não tento ganhar de ninguém. Durante todos esses anos sempre foquei em tentar fazer o meu melhor. Muitas vezes eu ganhei com tempos de que eu não gostei, assim como fiquei em segundo com tempos com os quais fiquei muito satisfeito. O mais importante sempre foi - e sempre vai ser, no meu modo de ver - tirar a melhor performance no momento, conseguir controlar a ansiedade.

Algum lugar que deseja conhecer em Londres?
Na verdade, é uma das dificuldade mentais que tenho. Não consigo pensar em nada após o dia 4 de agosto. Só sei que até o dia 4 eu tenho de nadar.

Como foi reaprender a nadar sem os trajes?
A gente vem nadando sem os trajes desde 2010... Então, na verdade, já não tem nada de novo para nós agora. Para ser sincero, a sensibilidade na piscina continua a mesma. A gente continua treinando de sunga como sempre treinou, uma sunga de arrasto para fazer peso nos treinos. Na hora da competição, normalmente, a gente está se sentindo muito rápido, muito bem. Os 50 m e os 100 m são provas muito rápidas, nem dá para ter uma sensibilidade se está ou não mais rápido do que antes. No momento em que se está nadando, a concentração é na técnica, na eficiência. Continua a mesma coisa, só ficou mais fácil no pré e pós-prova, para colocar e tirar o maiô.

Eu gosto do impossível, porque lá a concorrência é menor - frase do twitter. Relação com o momento e sobre os parâmetros que tem
Meu parâmetro é o meu melhor. Eu sei que se eu melhorar em algum aspecto da prova, em eficiência, em algum detalhe mais trabalhado, mais forte... eu posso tirar alguns centésimos. Meus parâmetros são os 47s84 do Pan e os 21s38 do Maria Lenk. A gente faz a análise das provas e vê o que pode melhorar depois das competições e nos treinamentos. Eu sinto que temos suprido isso a ponto de ficarmos confiantes, de melhorarmos os pontos de que não gostamos muito. Quanto vai sair não sei, é um chute mental aí. Se vai ser um centésimo ou meio segundo eu não sei dizer, mas a gente espera que seja o máximo que a gente consiga tirar na prova... Parâmetro é o que tenho na vida. Sobre as frases... Recebo coisas por e-mail, leio várias coisas e, quando gosto de alguma frase, gosto de ficar pensando, soou bem, eu li... mas não tem nada de particular em cada frase, não.

Mudanças na natação brasileira após a medalha olímpica em 2008
Como nadador, acho que foi um impulso para os atletas que já nadavam bem e só precisavam de uma luz para acreditar. O França é da minha idade, vem comigo desde o Chico Piscina, não foi a minha medalha que fez ele virar campeão mundial... Precisou de um pouquinho mais de tempo, mas foi campeão mundial em 2009. Ele já era campeão.Temos uma equipe jovem, entre 20 e 25 anos. Nesse aspecto, existe um pouco mais de respeito nas competições de parte de outros países para com o Brasil. É bom saber que o Brasil é um país que vai dar trabalho, que vem brigando na competição e não vai ter só mais um atleta na prova. E também na parte profissional. Os atletas trabalham para nadar. Está bem claro isso. A gente não vai para a piscina só quando está calor. Passa cinco, seis horas na piscina, tem de comer direito, descansar direito, dormir com hora regrada. Está mais respeitada a nossa rotina, a nossa dedicação. Acho que nesses aspectos demos um bom salto de 2008 para cá.

Descanso e cabelo em Londres
Não sei o que fazer com o cabelo, vai depender da touca. Não estou planejando nada. Se for muito apertada, vou cortar o cabelo, se não... vai ficar assim mesmo. E sobre o descanso, sei lá... É paranoia mesmo. O tempo todo é descansar. Tentar andar o mínimo possível, não subir escada, não carregar peso, para chegar na competição com energia de sobra. Agora é o momento de hibernar aqui e acordar lá na competição.

Sobre o PRO 16
Não tivemos muitas dificuldades, uma ou outra coisa tivemos de ajeitar, mas acho que saiu até melhor do que eu imaginei. Acho que o fator principal foi o Albertinho ter aceitado a minha proposta quando eu voltei dos Estados Unidos. Nem pensamos se era o meio do ciclo olímpico. Apenas nos juntamos para tentar conquistar esse bicampeonato olímpico a qualquer custo. Acho que o que mais fez esse aí virar foi a própria aceitação dos atletas, do staff.... Veio o Thiago Pereira, depois o Nilo (Nicolas Oliveira). Aí veio o Pan e a gente conseguiu um resultado muito legal. Do Mundial de Xangai a gente também saiu com as medalhas... Foi tudo se encaixando com o tempo. Foi tudo se acertando e aparando arestas no decorrer do processo. Na minha cabeça foi tudo muito natural. Não pensei em como seria sair dos Estados Unidos e vir para o Brasil, o Albertinho já estava no Pinheiros há um bom tempo. Não pensei muito nos efeitos colaterais. Eu tive uma visão e apostei nela, nas coisas que eu precisava para tentar conquistar o bi olímpico.

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