quinta-feira, 13 de outubro de 2011

PAN 2011 HEROIS BRASILEIROS

Cesar Cielo não se considera um garoto prodígio. Ao contrário do que muitos imaginam, o paulista de Santa Bárbara D’Oeste não era um fenômeno quando criança e ganhou o primeiro título nacional só aos 16 anos. A evolução, porém, meteórica. Cinco anos mais tarde estava no topo do mundo com o ouro olímpico pendurado no pescoço.

O ‘segredo’ do nadador é foco total voltado ao esporte. E a determinação. Frases motivacionais e metas espalhadas pelas paredes de casa potencializam a força de vontade do maior vencedor da modalidade no país. Mas nem os seguidos títulos e os objetivos alcançados são suficientes para secar suas lágrimas: sempre ‘chorão’, Cielo não tem vergonha de expor as emoções a cada conquista.

A primeira delas chegou cedo: aos 8 anos em um Festival do Barbarense, seu primeiro clube. Cielo aprendeu a nadar por sugestão do pai, o pediatra Cesar. Mas foi a mãe que o levou diretamente às piscinas. Professora de Educação Física, Flávia carregava o filho ainda pequeno às aulas no clube. E, desde cedo, o campeão olímpico e bi mundial dividia o tempo dos estudos com o esporte e aprendeu a dedicar parte do seu tempo à natação. “Ele sempre foi um aluno bom. Nunca precisou estudar muito porque já era bem inteligente. Ele ia bem em tudo e nunca foi de bagunça. Na educação física então, ele jogava tudo melhor do que eu. Era muito bom no vôlei, no basquete, no tênis... Nasceu para o esporte mesmo”, contou o amigo de infância Marcel Trivelin, 23 anos e estudante de engenharia agronômica.

A amizade dos dois foi construída nos arredores das piscinas. Trivelin e Cielo se cruzavam em competições no interior paulista. Aos 12 anos, o campeão olímpico foi treinar com o amigo no Clube de Campo de Piracicaba. Os dois ainda estudaram no mesmo colégio e curtiram juntos as férias na casa dos Cielo em Avaré (SP). “A gente jogava baralho, saia de moto, jogava sinuca e esquiava na represa. Bons tempos em que a gente se divertia muito”, relembrou o estudante, que mantém contato semanal com o nadador.

Trivelin revelou ainda que o amigo já era competitivo desde a adolescência. E chorão também. “Ah, isso ele sempre foi. Em 2003, ele foi campeão brasileiro, mas com um empate no primeiro lugar. Ele colocou a toalha na cabeça e começou a chorar. Todo mundo achou que ele ia estar feliz por ter vencido, mas estava chorando. Ficou triste porque queria ganhar de todos adversários e não empatar”, entregou o estudante.

Mas as lágrimas nos últimos anos têm outro motivo. Na verdade, o Brasil conhece mais o choro de alegria do que de tristeza de Cesar Cielo. Foi assim no pódio olímpico em Pequim-2008 ao som do hino nacional brasileiro. E a cena se repetiu nos Mundiais de Roma-2009 e, agora, em Xangai-2011. No entanto, antes de chegar ao topo, o barbarense fez vários sacrifícios.

Aos 15 anos, deixou a cidade natal para treinar no Pinheiros com o técnico Alberto Silva, o Albertinho – então mentor de Gustavo Borges. E nadou ao lado do ídolo por quase dois anos. Em 2006, ganhou uma bolsa de estudos na Universidade de Auburn, nos Estados Unidos, e foi cursar Comércio Exterior com especialização em espanhol. No primeiro dia do ano de 2008, ele acordou às 4h30 para cair na piscina sob o comando do treinador australiano Brett Hawke. “Ele não gosta de levantar cedo, não gosta de frio, não gosta de alongamento. Mas faz tudo porque tem a cabeça muito boa e consciente”, elogiou o treinador brasileiro.

O próprio nadador já revelou que não gosta de treinar, mas é determinado e sabe da importância de cada parte do trabalho. Durante três anos, Cielo intercalou períodos de atividades em Auburn e São Paulo. Nos Estados Unidos, teve que seguir a rigorosa cartilha que o impedia de namorar e sair à noite para beber, por exemplo. E conseguiu com a ajuda de frases motivacionais colhidas em livros ou mesmo enviadas por fãs. Em 2008, os tempos almejados ganharam a companhia dos pequenos textos nas paredes de suas casas em Santa Bárbara D’Oeste, em São Paulo ou em Auburn (EUA). “Vai treinar”, “Faça uma prova perfeita”, “Não se preocupe com os outros” estavam espalhados pelos cômodos.

As frases e biografias que Cielo gosta de ler o ajudaram na maior crise de sua carreira. O nadador foi flagrado em exame antidoping no Troféu Maria Lenk, em maio deste ano. No dia 1º de julho, ele teve o caso divulgado e aguardou por 21 dias o desfecho final: a CAS (Corte Arbitral do Esporte) acatou a decisão da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) de advertir o brasileiro. Quatro dias após a sentença, o barbarense conquistou o ouro nos 50 m borboleta no Mundial de Xangai – ele ainda foi bicampeão nos 50 m livre. “Ele é diferenciado. Depois de tudo o que aconteceu, do que ele passou... não vejo ninguém indo como ele foi no Mundial. Ele se desgastou, perdeu sete quilos, mas acreditava tanto naquilo, estava tão bem”, analisou Albertinho. “Se você tem cabeça e não talento, você faz, mas não é o cara. Ter talento e não cabeça, talvez você nem chegue a lugar nenhum. Prefiro atletas com menos talento e mais garra. Mas o Cesar alia as duas coisas. Por isso chegou onde está”, completou o técnico.

Cesar Cielo é campeão pan-americano, olímpico e bi mundial nos 50 m livre. Ele também tem o bronze olímpico nos 100 m livre e o ouro no Mundial de Roma-2009 na mesma distância. Em 2010, ele unificou os títulos em piscina longa (50 m) e curta (25 m) nas duas provas e também é dono dos recordes mundiais dos 50 m (20s91) e dos 100 m livre (46s91). E quer mais.


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